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Cientistas discutem apoio à pesquisa em gás

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Cientistas e profissionais do setor de gás natural estiveram reunidos no “International Workshop on Science, Technology and Natural Gas Applications”, promovido pela FAPESP e pela empresa BG Brasil – pertencente ao BG Group – nos dias 29 e 30 de outubro na sede da FAPESP.

As discussões realizadas durante o evento servirão de base para a elaboração de um acordo de cooperação científica e tecnológica que deve ser firmado entre as duas instituições no início de 2013.

“Os resultados superaram as expectativas e, com base no workshop, já será possível formatar o modelo do acordo para financiamento conjunto de um ou mais centros de pesquisa do tipo CEPID [Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão]”, disse Hernan Chaimovich, assessor especial da Diretoria Científica da FAPESP e presidente do workshop.

Segundo Chaimovich, que também coordena o Programa CEPID, a FAPESP deve enviar um modelo de documento para análise à BG Brasil nos próximos dias. “A BG Brasil está elaborando um plano de trabalho com base em alguns temas pré-selecionados que poderão nortear a primeira chamada de propostas, a ser anunciada assim que o acordo for assinado”, disse.

Entre os temas de interesse estão: “Integração do uso de gás em sistemas de energia”, “Liquefação de gás”, “Uso de gás para a produção de hidrogênio e outros produtos químicos”, “Veículos movidos a hidrogênio”, “Células a combustível” e “Evidências para subsidiar a formulação de políticas públicas para o uso de gás”.

Em entrevista, o presidente da BG Brasil, Nelson Silva, afirmou que a empresa busca uma parceria de longa duração com a agência de fomento paulista.

“Temos um contrato de concessão de 27 anos para explorar 25% do campo Lula e 30% do campo Sampinhoa – ambos no pré-sal da bacia de Santos – e uma das cláusulas desse contrato determina que 1% da renda bruta deve ser investida em pesquisa e desenvolvimento”, disse.

De acordo com a previsão da BG Brasil, a soma a ser investida em ciência e tecnologia pode ultrapassar US$ 2 bilhões nos próximos 15 anos. “Vamos destinar esses fundos a projetos com universidades de diversos estados brasileiros. Em São Paulo, queremos ter a FAPESP como grande parceiro”, disse Silva.

Uma das principais áreas de interesse para a empresa, segundo Silva, é a perfuração de poços, que representa 50% de todo o capital investido na exploração de óleo e gás.

Um poço no pré-sal hoje custa US$ 180 milhões, acrescentou, pois é preciso vencer 2,2 mil metros de lâmina d’água e depois 3,8 mil metros entre areia, sal e rocha. “Nossa perspectiva é perfurar 450 poços e, portanto, toda a tecnologia que consiga melhorar o tempo e reduzir o custo de produção desses poços terá um impacto enorme no projeto”, disse Silva.

A empresa já tem uma plataforma ativa, atuando praticamente na capacidade máxima e produzindo 100 mil barris de petróleo por dia e 30 mil barris equivalentes de gás. A meta da BG Brasil para 2020 é chegar a 600 mil barris diários.

“É uma ótima oportunidade para pesquisadores que atuam em universidades e institutos paulistas trabalharem com a BG Brasil para resolver problemas que exigem muita ciência e tecnologia e cujos resultados são importantes para a empresa e para o Brasil”, destacou o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz.

Perspectivas para o uso de gás

Durante o workshop, especialistas da Europa, Estados Unidos e Japão apresentaram dados sobre o mercado atual de gás natural e perspectivas para o futuro. Também foram discutidas as oportunidades e os desafios em termos de ciência e tecnologia para o setor.

Em sua apresentação, Nigel Brandon, diretor do Laboratório de Energias do Futuro do Imperial College London, na Inglaterra, listou razões para se investir na exploração do gás natural.

“São descobertas em todo o mundo reservas cada vez maiores, incluindo as não convencionais como de metano e de xisto. O gás natural é um combustível com emissão relativamente baixa de carbono e outros poluentes e pode ser um parceiro para equilibrar o uso de energias renováveis intermitentes, como a solar e a eólica”, disse.

Brandon, no entanto, ressaltou ser fundamental desenvolver tecnologias para reduzir ainda mais o impacto de carbono do gás natural, permitindo que ele deixe sua atual condição de combustível de transição e possa ser usado com eficiência nos transportes, no resfriamento e na geração de energia.

Para Kenji Maeda, da empresa japonesa Tokyo Gas, o gás natural deve desempenhar um papel significativo em uma sociedade de baixo carbono por meio de tecnologias avançadas, como a utilização de células a combustível.

“A cadeia de energia de hidrogênio, incluindo a rede de hidrogênio local com captura de dióxido de carbono, é uma potencial opção para o uso sustentável de gás. Precisamos expandir o escopo de nossas atividades, sem nos focar em um único dispositivo e buscando sistemas integrados para criar uma rede de energia inteligente”, disse.

William Liss, diretor do Gas Technology Institute, de Chicago, destacou que os Estados Unidos vivem a “era de ouro do gás natural” e isso pode diminuir a dependência do país dos combustíveis líquidos.

“O gás natural é hoje a principal fonte de energia produzida nos Estados Unidos. A confluência de novas técnicas de exploração de xisto tem mudado profundamente a trajetória futura da oferta e utilização de energia no país”, disse.

Segundo Patricia Rocha, coordenadora de assuntos corporativos na BG Brasil, a penetração do gás no Brasil ainda é baixa e 80% do uso ocorre no setor industrial.

Mas as perspectivas para o futuro são animadoras no país, de acordo com o gerente de Tecnologia do BG Group, David Jones. “O Brasil deverá atingir a autossuficiência no setor dentro de cinco anos e está prestes a vivenciar sua ‘era de ouro do gás’. Para atingir um futuro energético sustentável serão necessárias políticas públicas e novas tecnologias que possibilitem a transição a um mundo de baixo carbono”, disse.  

Agência Fapesp