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Navio Alpha-Crucis realiza primeiro cruzeiro com bandeira brasileira

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O navio oceanográfico Alpha-Crucis, adquirido pela Fapesp para o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), parte nesta quarta-feira (31/10) do porto de Santos para seu primeiro cruzeiro com bandeira brasileira. A embarcação seguirá para Cabo Frio, no Rio de Janeiro, levando a bordo 19 tripulantes e 20 pesquisadores.

“O objetivo é testar a operacionalidade do navio e dos equipamentos usados na coleta de dados, o que será muito importante para as expedições seguintes”, contou à Agência FAPESP o professor do IO-USP Frederico Pereira Brandini, chefe da missão.

O trabalho deve durar cinco dias. A primeira parada será em Ilhabela, ainda no litoral paulista, onde os técnicos pretendem calibrar o ecointegrador – instrumento acústico usado para medir a biomassa de organismos marinhos existente na coluna d’água.

“O ecointegrador funciona pelo mesmo princípio do aparelho de ultrassom. Gera imagens por meio da emissão de sons e consegue medir a biomassa entre o fundo e a superfície do mar”, explicou Brandini.

Ao chegar a Cabo Frio, os pesquisadores realizarão testes com garrafas de coleta d’água e instrumentos para medir a temperatura, a salinidade e a transparência da água.

“Além dos dados sobre a água do mar, pretendemos coletar amostras de sedimentos e de plâncton em diferentes profundidades: 100 metros, depois 200, 500, 1 mil, 2 mil e 3 mil metros. Essa é a meta, mas dependemos das condições climáticas e de navegação”, disse Brandini.

Posteriormente, os pesquisadores farão análises químicas e físicas das amostras coletadas. “Também pretendemos fazer estudos genéticos das bactérias e demais organismos marinhos recolhidos”, contou.

Para Michel Michaelovitch de Mahiques, diretor do IO-USP, a expedição, embora piloto, representa a retomada da pesquisa oceanográfica de ponta no país – estagnada desde 2008, quando o navio Professor W. Besnard, também do IO-USP, foi danificado por um incêndio.

“A expectativa da comunidade científica é que o Alpha-Crucis – adquirido por meio do Programa Equipamentos Multiusuários (EMU) da FAPESP – eleve a capacidade de pesquisas oceanográficas a um patamar inédito no Brasil”, disse Mahiques.

Enquanto o Professor W. Besnard tinha autonomia de navegação de apenas15 dias, o Alpha-Crucis tem capacidade para navegar por 40 dias, o que possibilita a realização de estudos em oceano aberto e amplia os limites geográficos de pesquisa.

Além disso, a nova embarcação dispõe de equipamentos mais modernos, entre eles um sonar multifeixe capaz de produzir um mapa tridimensional do fundo do oceano.

Conta ainda com um sistema de posicionamento dinâmico – que permite manter a posição em estações oceanográficas –, perfilador de subfundo, dois perfilhadores de corrente, guinchos e guindastes apropriados para diversas tarefas e mais de 100 metros quadrados de laboratórios.

A nova infraestrutura possibilitará estudos de cardumes e medição de correntes, antes impossíveis. Também tornará viável o comando de um veículo submersível operado remotamente (ROV, na sigla em inglês) de pequenas dimensões.

Início das pesquisas

Segundo Mahiques, outras duas expedições estão previstas ainda em 2012 – estas já para a realização de pesquisas. A primeira terá a missão de lançar uma boia na região sul da costa brasileira. “O equipamento ficará fixo no oceano, para fazer medidas de processos atmosféricos e oceanográficos. É a primeira vez que uma boia desse tipo será lançada no país”, disse.

O segundo cruzeiro de pesquisa, contou o diretor do IO, partirá da costa rumo ao oceano profundo para fazer medições de corrente na margem continental. “Há também um cruzeiro previsto para fevereiro de 2013, para um trabalho de sondagem e coleta de material do fundo do mar”, disse.

O Alpha-Crucis, cuja manutenção e gestão serão de responsabilidade do IO-USP, poderá ser usado por cientistas de outras instituições dentro das diretrizes do programa EMU. Nesta primeira viagem, estarão a bordo pesquisadores da USP de São Paulo e de Ribeirão Preto e também um técnico da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

Originalmente, o navio – que tem 64 metros de comprimento por 11 de largura e pode deslocar até 972 toneladas – pertencia à Universidade do Havaí e tinha o nome Moana Wave. Depois da aquisição pela FAPESP, passou por reformas e modificações. O custo total da embarcação foi de US$ 11 milhões. 

 Agência Fapesp