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Publicitário: web tem lixo como livrarias têm livros de Justin Bieber

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No segundo e último dia do 24º Fórum da Liberdade, o painel com o advogado Carlos Affonso Pereira de Souza e o publicitário Rony Rodrigues, mediados pelo jornalista Carlos Alberto Sardenberg, debateu questões que foram dos direitos autorais digitais à relevância do conteúdo disponível na internet, acusado de "lixo" em alguns momentos. Rony, fundador da Box 1824, empresa especializada em pesquisas de comportamento e em tendências, disse que a internet tem sim muito lixo, como exaltaram os demais participantes do painel Inovação e Tendências: Olhando o Futuro, mas que o lixo existe na internet da mesma forma que em outros meios de comunicação e espaços: "Uma livraria, uma banca de revistas, também está cheia de lixo, de livros de autoajuda e biografias do Justin Bieber. Na internet não é diferente, mas se soubermos navegar com sabedoria, podemos abrir as portas para um mundo extraordinário". Na mesma direção, Carlos Affonso afirmou que a internet tem muita alienação, mas que também tem muita inclusão.

Em sua fala, Rony fez um paralelo entre as últimas gerações e "a chave" que cada uma delas conquistou. A chave, segundo ele, é um símbolo de liberdade, pois quem não tem a chave em seu poder não tem liberdade. "A Geração do Baby Boom, que cresceu nos anos 60, ganhou a chave de casa, a possibilidade de ir e vir quando bem entendesse. E eles foram: saíram da casa dos pais, foram aos festivais de música, para as universidades e as mulheres, em especial, foram em massa para o mercado de trabalho", explicou Rony. Já a geração seguinte, a Geração X, que cresceu na década de 80, ganhou a chave do quarto, a chave para o individualismo. Por fim, a Geração Y, que é composta por pessoas que cresceram nos anos 90 e 2000 e que acompanha a digitalização do mundo, recebeu a chave do mundo. "Eles entram e saem de casa a hora em que bem querer, se fecham em seus quartos, no seu espaço, na sua zona de conforto, e se conectam ao mundo", disse Rony. Rony acredita que essa nova geração pode até não saber bem o que, mas sabe que quer algo mais: "Liberdade é pouco, o que eu quero não tem nome", disse ele citando Clarice Lispector.

Ainda de acordo com Rony, essa geração que cresceu com a digitalização por vezes se vê mais próxima de alguém que está do outro lado do mundo, no Japão, do que de seu vizinho. "Eles partilham dos mesmos códigos, códigos esses que são globais, que encontram lugar na internet, mas que reverberam para fora e chegam àqueles que não têm acesso a rede. Basta um cara conectado em uma lan house para que uma dança chegue a um povo", afirmou Rony. Ele acrescentou que essa geração de digital natives, ou seja, que cresceram na chamada era digital, não distingue o off-line do online, e que não está preocupada com os direitos autorais das músicas que baixam. "As leis para a internet não podem ser as mesmas leis que já conhecemos porque a internet é algo totalmente novo, revolucionário", concluiu Rony.

Carlos Affonso Pereira de Souza, que abriu sua participação no painel falando de direitos autorais trouxe para o debate o caso do Napster, site de compartilhamento de música que protagonizou o primeiro grande caso jurídico e saiu do ar no início dos anos 2000. Ele lembrou que o site foi vencido nos tribunais americanos, mas que seu serviço nunca parou de ser oferecido em outros sites, e que o download ilegal de músicas continuou e continua existindo mesmo sem o Napster. De acordo com ele, é preciso pensar as leis de direitos autorais digitais levando em conta questões de acesso, interatividade e colaboração, e que muitos países ainda se preocupam em culpar os provedores ou mesmo os usuários pelo download ilegal. "O Brasil faz parte do eixo do mal da pirataria", disse Carlos Affonso. Ele ainda afirmou que um caminho para repensar os direitos autorais digitais é a licença Cretive Comms, bastante utilizada no Flickr.

Defendendo o bom uso da internet, Carlos Affonso disse que a internet aproxima o usuário de quem decide, do poder, e que já está sendo usada de maneira muito séria em consultas públicas, no formato de fóruns.

Outra tendência apontada por Rony Rodrigues é da educação tangencial, como por exemplo jogos que estão sendo desenvolvidos para ajudar no aprendizado escolar dos jovens. De acordo com ele, testes e pesquisas estão sendo feitas para verificar quanto e como os games podem ajudar as crianças a aprender os conteúdos básicos ensinados na escolas sem precisar ficar cinco horas sentados na frente de uma professora. "Se no meu tempo já era difícil passar cinco horas sentados, se minha mãe já achava estranho os jovens cheios de hormônios fechados em uma sala de aula, imagina agora que o jovens passam dez horas na frente de um computador e que aprender a abrir janelas da internet antes de ir para escola", provocou Rony.