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Peixes adotam aparência semelhante para evitar predadores

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Agência FAPESP – Na maior parte dos rios na América do Sul é comum encontrar grupos de pequenos cascudos – conhecidos entre os aquaristas como "limpa fundo" – que, à primeira vista, parecem iguais. Mas, apesar de muito parecidos, não pertencem à mesma espécie, segundo estudo publicado na edição desta quinta-feira (6/1) da revista Nature.

A pesquisa, feita por cientistas do Brasil e do Reino Unido, revelou que comunidades de cascudos, ainda que possuam exemplares com padrões e cores praticamente idênticas, podem conter três ou mais espécies diferentes.

O estudo observou que as espécies adotam o chamado mimetismo Mülleriano, no qual os exemplares são tanto modelos como mímicos, adotando padrões e cores semelhantes para o benefício de todos, como na defesa contra predadores.

A convivência entre as espécies é notável. “Embora aparentemente idênticos em termos de padrão de cores, nossa análise aprofundada das relações genéticas, da dieta, da forma corporal e de outros padrões revelou que 92% das comunidades analisadas continha espécies que não competiam entre elas por alimentos”, disse Markos Alexandrou, da Universidade Bangor, no Reino Unidos, um dos autores do estudo.

Apesar de evoluírem para uma aparência similar, as espécies continuam distintas, com linhagens genéticas diferentes, concluiu o estudo que também teve como autor Claudio de Oliveira, professor do Departamento de Morfologia do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Os resultados do estudo indicam que, em muitos casos, o número de espécies de cascudos (grupo Corydoradinae) pode ser maior do que se estimava até então. Esse aumento teria importante implicações para as estratégias de proteção da diversidade das espécies, ameaçadas pelo desenvolvimento urbano, pela poluição ou pela construção de represas.

“Além da biodiversidade desconhecida e do interessante sistema evolutivo revelado pelo estudo, o trabalho reforça a necessidade urgente de preservar e gerenciar os ecossistemas sul-americanos, de modo a evitar a perda de espécies que ainda nem foram descobertas e descritas”, disse Oliveira, que coordena projetos de pesquisa apoiados pela FAPESP.