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Cervos mais férteis geram mais filhotes machos, diz estudo

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MADRI - Cientistas espanhóis descobriram que os cervos machos determinam o sexo de seus filhotes para conseguir um maior êxito reprodutivo, de forma que os mais férteis têm mais crias do sexo masculino e os menos férteis, do sexo feminino. O estudo foi coordenado pelos pesquisadores Montserrat Gomendio e Eduardo Roldán, do Museu Nacional de Ciências Naturais (CSIC), em Madri, e Julián Garde, do Instituto de Pesquisa em Recursos Cinegéticos, em Ciudad Real.

O trabalho, publicado na última edição da revista 'Science', analisa pela primeira vez o papel do macho na determinação do sexo de seus filhotes, depois que investigações anteriores se concentraram apenas no papel das fêmeas. Foram inseminadas 350 fêmeas de cervo com o sêmen de machos de populações selvagens, e foram descobertas diferenças claras de fertilidade entre eles.

- Ao contrário do que diz a opinião mais comum, o êxito reprodutivo dos machos não depende apenas de seu tamanho e de sua habilidade para vencer outros machos em brigas, mas também de sua capacidade de fecundar as fêmeas após a cópula - disse Gomendio.

- Os machos mais férteis produziram uma maior proporção de filhotes do sexo masculino. A porcentagem de espermatozóides morfologicamente normais do sêmen estava relacionada com a proporção de filhotes machos - acrescentou.

Gomendio, licenciada em Biologia pela Universidade Complutense de Madri e doutora pelo Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge (Reino Unido), explicou que a proporção de espermatozóides normais é, junto com sua velocidade, um dos principais determinantes da fertilidade dos machos. Nas populações selvagens, os machos mais férteis são dotados de testículos grandes e que produzem mais espermatozóides. Além disso, seus chifres são maiores e mais elaborados, de forma que suas crias do sexo masculino também podem herdar estas características.

Os mecanismos que permitem aos machos determinar a proporção de filhotes de um determinado sexo são desconhecidos, mas o fato de que é o espermatozóide (portador dos cromossomos X ou Y) que fecunda o óvulo e que decide o sexo dos filhotes sugere que, entre mamíferos, os indivíduos do sexo masculino teriam maior controle sobre esses mecanismos do que em outros grupos animais. O estudo levanta duas possibilidades; segundo uma delas, os machos poderiam diferir na proporção de espermatozóides portadores de cromossomos X e Y que produzem.

Segundo a outra, os espermatozóides portadores do cromossomo Y poderiam ser mais competitivos em machos mais férteis, enquanto os portadores do cromossomo X seriam mais competitivos em machos menos férteis.

- A possibilidade de que tanto fêmeas quanto machos manipulem o sexo dos filhotes sugere que podem ocorrer conflitos de interesses entre ambos, o que explicaria a existência de resultados contraditórios de estudos anteriores - explicou.

Foi demonstrado que, entre os cervos, as fêmeas dominantes (com maior acesso a recursos limitados) produzem machos, e as subordinadas, fêmeas. Esta diferenciação no sexo dos filhotes tem conseqüências para o êxito reprodutivo das mães. As fêmeas dominantes desfrutam de boa condição física, e podem dar a seus filhotes leite em maior quantidade e de melhor qualidade, o que lhes assegura um crescimento rápido e maior porte quando chegam à idade adulta. Esses machos de grande tamanho tendem a vencer as brigas e controlam o acesso sexual à maioria das fêmeas da população.

As fêmeas subordinadas, por sua vez, produzem filhotes do sexo feminino, cujo êxito reprodutivo não depende tanto da qualidade da lactação nem do tamanho que alcançam na idade adulta.