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'The Guardian': Escola de samba atrai ira do agronegócio ao defender indígenas

Enredo defende luta pela conservação da floresta de hidrelétricas e agronegócio

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Matéria publicada nesta sexta-feira (17) pelo The Guardian conta que o samba enredo escolhido pela escola de Samba do Rio de Janeiro Imperatriz Leopoldinense está causando grande polêmica entre políticos e empresários do Brasil. É que o tema defende os povos indígenas e coloca o desmatamento, assim como hidrelétricas e o agronegócio, como grandes vilões da natureza. 

 “O índio luta pela sua terra, da Imperatriz vem o seu grito de guerra! Salve o verde do Xingu”, diz o samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense, preparado para o Carnaval deste ano no Rio de Janeiro.

O Guardian comenta que o tema “Xingu, o clamor que vem da floresta" criado com o intuito de homenagear os indígenas da região e sua luta pela preservação da floresta e sua cultura também critica o extrativismo insustentável, a hidrelétrica de Belo Monte e agradece aos irmãos Villas-Bôas, enquanto as alas mostram a exuberância da cultura indígena e os males que os afetam, como desmatamento, uso agressivo de agrotóxicos, queimadas e poluição.

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O diário observa que a realização de um apelo ambiental diante de uma audiência de dezenas de milhões de dólares é uma perspectiva alarmante para o poderoso setor agrícola do país, que recentemente encorajou o governo a enfraquecer as regras sobre demarcação de terras indígenas e proteção florestal.

O noticiário britânico informa que a Associação Brasileira de Criadores de Gado acusou a escola de samba - que ganhou o concurso anual oito vezes - de uma conspiração para difamar os agricultores que, segundo ela, devem ser tratados como heróis nacionais, pois representam 22% do PIB.

"É inaceitável que o festival brasileiro mais popular, que tem a admiração e o respeito de nosso setor, faça um show de sensacionalismo e ataques infundados", disse em comunicado.

Isso foi ecoado pela Associação Brasileira da Indústria de Arroz, que alertou sobre "grandes danos potenciais ao país, internamente e no cenário internacional, devido à evidente ignorância e imprudência com que a escola de samba retratava o agronegócio".

Em uma reação sinistra, o congressista Ronaldo Caiado - membro do poderoso bloco ruralista aliado aos interesses do agronegócio - propôs uma investigação da escola e suas ligações financeiras, afirma o Guardian.

O presidente da escola de samba, Luiz Pacheco Drumond, disse que estavam interpretado mal as letras. "Belo monstro", disse ele, era uma referência à hidrelétrica de Belo Monte e não ao agronegócio. Mas, depois de ter passado vários dias com tribos do Xingu, o sujeito, ele não tinha remorsos sobre o chamado para a conservação da floresta.

Os defensores dos direitos indígenas estão muito satisfeitos, afirma o The Guardian.

"Isso é excelente", exclamou Ivaneide Bandeira, da Associação de Defesa Ethno-Ambiental de Kaninde. "A ideia da Imperatriz colocar esta questão no seu desfile deve ser aplaudida. Foi uma atitude de coragem e muito inteligente".

A Associação Brasileira de Criadores de Gado tem acusado a escola de samba de planejar 'um show de sensacionalismo e ataques infundados', descreve o periódico.

Eduardo Viveiros de Castro, professor de antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse que o único caso semelhante que ele poderia pensar foi em 2004 quando a escola de samba da Portela explorou os mitos e o folclore do passado da Amazônia. Desta vez, no entanto, disse que a Imperatriz estava se concentrando na controvérsia exploração contemporânea, por vezes indevida.