ASSINE
search button

Os ônibus do Rio precisam melhorar

Compartilhar

Há quase oito anos escrevi um artigo aqui no JB mostrando que a população carioca vivenciava a decadência do transporte por ônibus na região metropolitana do Rio, apesar da fortíssima e crescente demanda por transporte público, na época. Essa situação não era diferente em praticamente todas as cidades brasileiras de médio e grande portes, cujas empresas de ônibus estavam com dificuldades para atender à demanda, visto que a concorrência estava cada vez maior e diversificada.

Atualmente, em plena crise política e econômica do país, o transporte no Rio encontra-se em situação periclitante, devido à retração da demanda, decorrente do desemprego e da diminuição do poder de compra da população. Somente em 2017, o número de passageiros pagantes transportados diariamente por ônibus caiu 10,3%, em relação a 2016, no Município do Rio, segundo a Fetranspor. 

Os usuários não mais toleram os excessivos tempos de viagem e de espera nos pontos nem o pouco alcance de itinerários, o desconforto e a irregularidade da frequência dos ônibus. No caso do Rio, vale dizer que não falo de regiões privilegiadas, como Zona Sul e parte da Zona Norte, onde podem ser encontrados ônibus novos e refrigerados. Falo da maioria dos bairros da cidade, principalmente na Zona Oeste, Leopoldina, Baixada e Niterói e São Gonçalo) onde a população sofre com desconforto, superlotação, impontualidade, escassez e falta de linhas.

Para comprovar tudo isso, o portal Mobilize – Mobilidade Urbana Sustentável – divulgou, em maio, dados da avaliação do transporte público de três capitais: Belo Horizonte, São Paulo e Rio, pelo aplicativo de celular MoveCidade, cujos resultados foram enviados às respectivas secretarias de Transporte municipais e estaduais, pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. 

No Rio, o aplicativo permitiu a avaliação da qualidade dos ônibus municipais por 1.295 usuários, entre 25/09/17 e 24/03/18, cujas notas, de 0 a 10, foram: 3,46 para limpeza e manutenção (veículo); 4,84 para motorista (respeito); 3,90 para lotação (conforto); 4,15 para trânsito (fluidez); e 3,64 para a segurança (veículo). A pesquisa também observou que foram muito criticadas a falta de informação nos terminais, além de acessibilidade para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, bem como o excessivo tempo de espera pelos ônibus, que ultrapassam 15 minutos.

Os números do setor são implacáveis e, independentemente da crise, fatores como tarifa, tempo de viagem, estado dos veículos e trânsito contribuem para a queda do transporte nos ônibus nas cidades brasileiras, inclusive no Rio. Sob o ponto de vista empresarial, transporte coletivo é serviço e seu sucesso está ligado à qualidade da oferta. Penso que a reconquista do mercado perdido deve começar por uma nova cultura corporativa, alicerçada numa competente gestão profissional e numa política de recursos humanos baseada em recompensas pelo atingimento de metas de excelência. Quem gera receita para as empresas de ônibus é o usuário e esse tem de ser conquistado no mercado, uma vez que já não mais existe um mercado cativo. 

Sob o ponto de vista público, transporte coletivo também é serviço e a responsabilidade dos poderes concedentes, municipais e estaduais, é regulamentar o setor e implantar a melhor política de transporte para a sociedade como um todo. Os poderes públicos não podem obrigar as pessoas a utilizar ônibus, mas podem induzi-las a utilizar um sistema legal, organizando, regulamentando, fiscalizando e oferecendo vantagens fiscais e operacionais às empresas concessionárias. Com certeza, a redução da tarifa, a melhoria da qualidade do transporte e investimentos em infraestrutura urbana podem atrair novamente o usuário. O setor precisa de ações que tragam resultados positivos, baratos e rápidos, como criação de faixas exclusivas monitoradas e fiscalizadas, para diminuir os tempos de deslocamentos, reordenamento das linhas e itinerários, para alcançar todos os locais de demanda, e integração física e tarifária entre todos os modos de transporte, dentro do conceito da multimodalidade, para permitir ao usuário fazer o percurso casa-trabalho com um só bilhete. 

* Doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ e professor da FGV