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Coluna da Segunda - Marina e o filho do Otto

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Escrevi este artigo antes do jogo do Brasil. Mesmo porque temos um belo time em nossas páginas para falar sobre futebol, com a presença de Tostão e Juca Kfouri. Mas aproveito para esclarecer que meu padrão de exigência com a seleção brasileira é muito alto. Venho de longe e vi Pelé e Garrincha em ação. Acompanhei o bicampeonato de 1958/1962 e sofri com o fracasso de 1966. Veio, então, a campanha histórica de 1970, com a seleção que é considerada a melhor de todos os tempos. Lá estava o genial Tostão na companhia de Pelé, Rivelino, Jairzinho, Gerson e Carlos Alberto, sem esquecer de reservas de luxo como Paulo César Caju. Depois houve um longo intervalo sem títulos, numa espécie de entressafra. Mas a dupla Romário e Bebeto nos trouxe o tetra em 1994, e outra parceria de primeira — Ronaldo e Rivaldo — comemorou o penta no Japão, até hoje conquista exclusiva de nosso futebol. Agora, na Rússia, temos Neymar, Gabriel Jesus e Philippe Coutinho. O trio é bom de bola e a expectativa é enorme. Muita gente já fala no hexa. Eu, com meus botões, penso nos grandes craques que nos deram o penta entre 1958 a 2002. E prefiro ver para crer.

Feita a ressalva, vamos a outro time que está chamando a atenção no momento. Trata-se do seleto grupo de economistas que se dedica à assessoria dos principais pré-candidatos à Presidência da República. Matéria na edição de ontem do JB dá destaque aos seguintes nomes: Pedro Malan, André Lara Resende, Pérsio Arida, Gustavo Franco, Paulo Guedes e Mangabeira Unger. E o que mais impressiona é a diáspora tucana. Paulo Guedes, com Bolsonaro;  e o professor Mangabeira Unger, com Ciro Gomes, têm voo próprio e nunca pertenceram a correntes ou grupos. É chocante, porém, a adesão do liberal Paulo Guedes ao ex-capitão do Exército, defensor de um Estado forte em todos sentidos. Quanto aos tucanos Malan, Lara Resende, Arida e Franco, todos participaram como membros graduados dos governos Fernando Henrique Cardoso. Lara e Arida foram responsáveis pelas bases teóricas do Plano Real, enquanto Malan e Franco, com o auxílio de Armínio Fraga, participaram da execução do modelo anti-inflacionário em posições de comando na equipe, seja na Fazenda, seja no Banco Central. Lara Resende foi diretor do BC e presidente do BNDES. Na atual corrida sucessória estão divididos: Malan, com Álvaro Dias; Lara Resende, com Marina Silva; Pérsio Arida, com Geraldo Alckmim; e Gustavo Franco, com João Amoêdo.

Pedro Malan diz que sua assessoria a Dias é informal. Mas André Lara Resende dá a entender que, se Marina for eleita, poderá assumir o Ministério da Fazenda, cargo que ainda não ocupou.  Quem ficaria muito feliz com sua ascensão seria o famoso psicanalista Hélio Pellegrino, um dos “Quatro Cavaleiros do Apocalipse”, grupo de intelectuais mineiros que formava, ao lado do poeta Paulo Mendes Campos, do escritor Fernando Sabino e do jornalista Otto Lara Resende. Hélio conhecia o economista desde criança. E apostou no sucesso do Plano Cruzado, em 1986, quando soube que o “Andrezinho” era um dos autores da reforma monetária do governo Sarney. Dias após o anúncio do Plano Cruzado, fui a um jantar na casa de Pellegrino, no alto do Jardim Botânico. Na época, ele estava vivendo com a escritora Lya Luft. No meio da conversa, eu disse que tinha entrevistado Maria da Conceição Tavares para a revista “Exame” e falei a ela da preocupação nos meios sindicais com a política salarial, que previa apenas um pequeno reajuste na largada do Cruzado. Contei que Conceição ficou furiosa, me segurou pelo pescoço e quase me agrediu. “O plano é perfeito!”, repetiu aos brados. 

Hélio Pellegrino divertiu-se com meu relato. Mas se juntou ao otimismo da querida economista e fez a seguinte observação: “Eu também acredito no Plano Cruzado. Aposto no talento do ‘Andrezinho’. Confio totalmente no filho do Otto. Pode ficar tranquilo. Ele jamais prejudicará os trabalhadores”. Percebi que era uma questão de fé. E não retruquei. Não ousaria pôr em dúvida a competência do filho do Otto Lara Resende, o respeitado jornalista que Nelson Rodrigues homenageou ao batizar com seu nome o título alternativo da peça ‘Bonitinha, mas Ordinária”. Hélio Pellegrino era petista de coração e, dificilmente, votaria em Marina. Mas acho que ele desejaria sorte ao “Andrezinho”.