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Um escritor acidental

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Não há evento que consiga atrair mais a atenção das pessoas em todo o planeta (até nos Estados Unidos isso começa a acontecer, acreditem) que a Copa do Mundo. O futebol tem esse poder hipnotizante. A Fifa já tentou tirar o futebol dos Jogos Olímpicos. O COI não deixa. Porque é a modalidade que mais atrai público para os Jogos, que são a grande festa das demais modalidades esportivas. Então, vamos fazer uma pausa na política e na economia (ufa! Estamos mesmo precisando disso). Ainda mais se a seleção brasileira tiver o mesmo desempenho que tem apresentado desde que Tite assumiu como técnico. Toc, toc, toc na madeira. 

Então aproveito a pausa para contar sobre uma experiência que me envolveu muito nos últimos dois anos. Escrever um livro. Finalmente será lançado, nesta segunda-feira, dia 18, no Rubayat da Rua Jardim Botânico (o lançamento em São Paulo será no dia 28, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi). O título é “Os Leite Barbosa, a saga da corretora que revolucionou o mercado”. Tinha dado um título provisório, “O padrinho do mercado de capitais”, com sentido dúbio mesmo. Padrinho no sentido de ser um pouco o pai, e no sentido de “padrinho”, de “máfia”. 

Não que o mercado de capitais seja uma máfia, uma organização que reúne bandidos de toda a sorte.  Mas sim pelo fato de o mercado ter crescido com uma cabeça meio torta. 

Escrevi o livro a convite de Antonia Leite Barbosa, neta de Marcello Leite Barbosa, que talvez tenha sido o maior corretor de toda a história do mercado brasileiro de capitais. O pai de Antonia, Maurício, faleceu há três anos. Era sonho dele contar essa história. Antonia, ainda sob a forte emoção da perda do pai, resolveu realizá-lo. Não nos conhecíamos pessoalmente. Ela já brilhara aqui, nas páginas do JORNAL DO BRASIL, outros tempos, como cronista do cotidiano. E segue ainda por esse rumo. Por e-mail, convidou-me para a empreitada. E daí partimos para uma “viagem” que teve, inclusive, momentos de Sherlock Holmes: descobrimos coisas do arco da velha... 

Uma volta ao passado. Um dos meus primeiros empregos, em 1970, foi no Boletim Cambial (onde o vice-presidente deste jornal, Gilberto Menezes Côrtes, também começou como estagiário), cujo dono, João Alberto, era o irmão mais velho de Marcello. Mantive alguns laços com a família, por meio de Ana Maria, filha de João Alberto, que trabalhava no BC e se tornou, mais tarde, editora da publicação. Foi uma época em que a economia brasileira deixava para trás a dependência das exportações de café (mais de 40% das vendas brasileiras para o exterior). 

Comprava-se ferro elétrico em 24 prestações mensais. Um boom de consumo. O PIB chegou a se expandir ao ritmo de 11% ao ano. O milagre econômico brasileiro, como se dizia, então. Porém sob um regime militar paranóico e boçal (por mais que nossa democracia seja meio fajuta, ter saudades daquele regime nos dias de hoje é de cortar o coração de quem, como eu, não suporta boçalidade e ignorância). 

A bolsa de valores quase explodiu, literalmente. A classe média viu ali uma oportunidade de enriquecer, de forma fácil e rápida. A lição de que na economia não existe almoço grátis, a gente só aprende levando bordoadas na cabeça. E foi o que aconteceu. Um crash jogaria o mercado de capitais na lona, e seriam necessários vários anos para que houvesse alguma recuperação. 

Marcello Leite Barbosa esteve no centro disso tudo, na parte boa e na parte ruim. Por sua corretora passaram diversos personagens que se destacaram posteriormente no mercado de capitais. A ascensão e queda da corretora foi acompanhada de dramas pessoais diversos, envolvendo a família Leite Barbosa e muitos dos que trabalharam lá. Mas para saber mais detalhes vocês terão de ler o livro.

* O jornalista continua como tal. Não é um escritor e promete não se candidatar à ABL