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A pretensa racionalidade humana

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Nós, humanos, ocupamos o mais destacado lugar na escala dos animais, ou seja, somos animais com todas as suas características específicas, nós temos o grande privilégio de raciocinar com todas suas implicações e decorrências naturais. Tal situação nos coloca em uma posição de grande destaque. Será que o homem faz bom uso dessa condição privilegiada? Não, é evidente que a resposta é negativa, porque o que se evidencia é uma prevalência do nosso lado animalesco, selvagem. Muitas vezes essa supremacia do instinto, quando exacerbada, assume as características de um desajuste, de um desequilíbrio, às vezes parcial e em outras vezes de forma total.

Quando tal excesso ocorre, podem e têm acontecido desastres de proporções e consequências terríveis. Um exemplo prático explicaria melhor essa exposição teórica. Se os terroristas apresentam motivos de idealismo e amor extremo pela causa que defendem e pela qual lutam com a doação de suas próprias vidas, não estaria a sua racionalidade abafada e afastada? O grave perigo, ou em outras palavras, um dos muitos problemas que estamos todos enfrentando na atualidade é a transformação em uma grave rotina de “modismo de matança”. O mais recente deles é o lançamento de veículos motorizados contra inocentes cidadãos que são assassinados simplesmente porque estavam ali, na hora errada e no lugar errado. Foram simplesmente “a bola da vez”, como alvo de terroristas loucos e assassinos, que matam, segundo eles, em nome de Deus. Que Deus é esse que invoca a matança, o extermínio, o assassinato em seu nome? Está tudo errado, muito errado, muito louco.

É bem verdade que no último atentado ocorrido em Toronto, no Canadá, no fim do mês de abril, o assassino foi um homem chamado Alek Minassian, que matou dez transeuntes e feriu gravemente outros dez quando lançou seu caminhão contra uma multidão de inocentes pedestres no centro daquela cidade. Pouco antes de cometer esse atentado, ele escreveu uma mensagem no Facebook na qual preconizava a chegada de uma “incel rebellion”.

Tal expressão se refere a uma insígnia de honra instituída por uma comunidade de subcultura de agentes misóginos, que teve formação “online”. O seu lema é o ódio contra as mulheres que não lhes concedem o prazer do sexo. Tal ocorrido, contado antes do estudo de suas causas e motivações, levava a crer, de imediato, que se tratava de um atentado típico do Estado Islâmico. O assassinato que Alek Minassian cometeu teve todas as características do estilo islâmico, mas não foi motivado pela ideologia do Estado Islâmico.

É obvio, como destaca claramente o artigo publicado no jornal “New York Times” no dia 1º de maio, com o título “Sex, shame and terrorism” (Sexo, vergonha e terrorismo), trata-se de um ato isolado de um indivíduo profundamente insano. Parte daí nossa afirmação primeira de que, às vezes, quando em excesso, o nosso lado animalesco assume o proscênio, o desequilíbrio tem lugar e acontecem tragédias. Alek Minassian tinha uma frustração e uma vergonha exacerbada causada por sua falta de contato sexual com mulheres. No seu caso particular havia uma patológica obsessão com sexo e mulheres. Na sua visão doente, as mulheres parecem ter sexo com muitos homens, com exclusão dele. Como consequência de total ausência da racionalidade, essa situação é internalizada como um grave insulto pessoal.

Tais homens são vítimas tanto de uma tremenda vergonha sexual como também têm uma noção de serem um fracasso sexual.

Estudiosos habilitados sugerem uma conexão entre a frustração sexual e a raiva assassina dos terroristas da Jihad. O professor Juergensmeyer afirma, cita o jornal, que os fracassos na vida sexual podem levar a violentos atos públicos.

De uma forma ou de outra, e na loucura levada ao extremo, é a racionalidade humana que, infelizmente, é totalmente reprimida e vencida. 

* Especialista em Educação pela UFRJ