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Subdesenvolvimento não se improvisa

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O Brasil viveu sua semana de Venezuela. Os caminhões pararam nas estradas e o abastecimento de mercados, restaurantes, postos de gasolina, hospitais e até aeroportos entrou em colapso. As pessoas compraram o que podiam e viveram o seu dia de guerra. Guerra não declarada, mas real. Os brasileiros estão assustados com a falta de governo, com a vida extremamente precária, com a violência urbana e com o Custo Brasil, proporcionado por absurdos impostos pagos pelos contribuintes que, aliás, não recebem em retorno nem um décimo do que pagam. 

Greve de caminhoneiros não é novidade no Brasil. Os governos Figueiredo, Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff enfrentaram o problema e colocaram na mesa a primeira providência. Suspender o movimento para que houvesse negociações. Em todos os casos, os representantes do movimento aceitaram. E as greves duraram apenas três ou quatro dias. Agora, ao contrário, o governo cedeu mais do que previsto, mas os caminhoneiros continuaram parados nas estradas. 

Transformar o país numa Venezuela não é coisa simples. É resultado de planejamento específico e objetivo. O país se desorganizou na última década. O setor elétrico está completamente endividado. O brasileiro paga preço excepcionalmente elevado pelo quilowatt/hora. Não há sentido, já que a energia é gerada por enormes hidrelétricas que produzem a custo baixo. No entanto, a conta de luz é alta porque o governo se intromete em tudo. No caso do petróleo acontece coisa semelhante. 

Hoje, a Petrobras é superprotegida. Saiu do buraco e começou a revelar resultados positivos. E essa nova versão da empresa não permite questionamentos. O país produz cerca de 2,5 milhões de barris/dia. Essa produção é custeada em reais, tanto o petróleo quanto o gás. A importação de 600/700 mil barris dias é custeada em dólares. Ocorre que a Petrobras exporta petróleo bruto (e recebe em dólares). Importa gasolina e óleo diesel e, naturalmente, gasta dólares. Alta do preço do barril de petróleo no mercado internacional ajuda a Petrobras nas suas exportações. Prejudica a empresa no capítulo importações. A maior parte do petróleo consumido no país é produzida por fontes internas. 

Quando o barril de petróleo sobe no mercado internacional, o índice de elevação não deve ser colocado, por inteiro, no preço interno. Em números redondos, apenas um terço do que é consumido no Brasil vem do exterior. Então, o contágio do mercado internacional com o consumo interno é menor. A política de preços da Petrobras é uma caixa preta. Ninguém sabe como a empresa chega ao número. Sobre ele, os governos estaduais e o federal colocam um monte de impostos. A novidade é aumentar o preço do produto quase todos os dias. Isso não existe no capitalismo internacional. Nem no mercado do petróleo. 

O contexto é esse. O governo é fraco, está em fim de mandato. O poder está se dissolvendo. E não há, ainda, candidatos viáveis à sucessão de Michel Temer. O que faz com que os dirigentes assumam o que de melhor podem fazer. Adiar soluções. Foi o que fizeram no caso atual da greve dos caminhoneiros. No fim do ano passado, o governo anunciou que no início de 2018 faria a licitação de concessão de rodovias e ferrovias. Tudo foi adiado e nada resolvido. A questão das ferrovias é particularmente angustiante. 

A Ferrovia Norte-Sul começou a ser construída no governo Sarney. O projeto enfrentou a oposição do PT. Foi sendo construída lentamente. Os trilhos, afinal, chegaram a Anápolis. A obra foi inaugurada por Lula e por Dilma. Mas não há trens circulando. Existem os trilhos, mas não há negócios, porque a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) não consegue definir o modelo de negócios para ferrovias no país. Subdesenvolvimento não se improvisa. 

* Jornalista