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Os corredores exclusivos de ônibus funcionam?

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Os corredores de serviço rápido por ônibus, conhecidos pela sigla em inglês BRS (Bus Rapid Service), funcionam no Rio de Janeiro desde o início de 2011, com o objetivo de reduzir o excessivo número de ônibus urbanos que trafegam diariamente nas principais vias da cidade e, assim, aumentar a velocidade dos veículos e diminuir os congestionamentos.

No início, o sistema BRS chegou a reduzir em até 24% o tempo médio dos veículos em alguns corredores, pois contava com o monitoramento eletrônico por câmeras, que multava os veículos que invadiam as faixas da direita, reservadas exclusivamente para ônibus e táxis com passageiros. Atualmente, existem apenas 21 corredores BRS na cidade, no total de 50km, a maioria no Centro e Zona Sul.

Apesar de ser considerado um sistema fundamental e de existir um plano de expansão para criação de mais 70km de faixas exclusivas, a prefeitura não mais instalou novos corredores BRS e não vem realizando a conservação das vias, que já apresentam problemas no pavimento. Para agravar a situação, desde o fim do ano passado, os pardais foram removidos ou deixaram de funcionar na maioria dos corredores. Tudo isso contribui para justificar a posição do Rio como a 8ª cidade mais congestionada do mundo, segundo pesquisa de 2017 da TomTom Traffic, empresa mundial de GPS.

A situação atual de falta de controle e fiscalização vem causando desorganização no trânsito. Um exemplo que merece ser citado é o da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, onde acontecem todos os tipos de infrações de trânsito, sem coibição do poder público municipal. Em alguns trechos críticos, existem placas de trânsito que proíbem os veículos de parar e estacionar que são solenemente ignoradas. Esse quadro é o mesmo nos demais corredores BRS da cidade.

Cabe lembrar que, há muitos anos, na década de 1980, a própria Avenida Nossa Senhora de Copacabana já teve esse tipo de faixa exclusiva, que durou pouquíssimo tempo, pois não havia monitoramento nem fiscalização, e logo caiu em descrédito e o modelo foi abandonado.

Contudo, a prefeitura anunciou que os radares voltarão a funcionar em todos os 21 corredores. Ótima notícia, mas cabe uma pergunta: será que somente a reativação dos pardais resolverá a situação caótica do trânsito do Centro e da Zona Sul? E as zonas Norte e Oeste, não receberão os corredores BRS?

O problema é complexo e não será fácil para a prefeitura recuperar a credibilidade desse modelo, pois, infelizmente, os motoristas e pedestres estão adaptados à falta de disciplina nas vias públicas e não acreditam na eficiência, eficácia e perpetuação da fiscalização.

Na prática, a prefeitura tem que olhar para o problema da mobilidade urbana de forma sistêmica, entendendo que os corredores BRS precisam funcionar como alimentadores dos sistemas de transporte de médias capacidades (BRT) e de altas capacidades (metrô e trens). Vale ressaltar que os ônibus do BRS precisam estar integrados com todos os modos de transporte de massa, de forma física e tarifária. Além disso, a prefeitura precisa investir em estacionamentos subterrâneos, semaforização inteligente e campanhas educativas permanentes.

Em última análise, o sucesso dos corredores BRS dependerá da competência e disposição da fiscalização municipal, não somente por meio dos radares eletrônicos, mas, principalmente, pela presença física permanente dos agentes municipais, tanto a pé como de motocicletas. Esses agentes precisam conquistar a confiança da população, com uma atuação orientativa e repressora das infrações, especialmente aquelas que ocorrem no lado esquerdo dos corredores, caso contrário os congestionamentos continuarão e o sistema BRS fracassará novamente.

* Doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ; mestre em Transportes pelo IME e professor da FGV