Na edição que marcou a volta do JB às bancas, em 25 de fevereiro passado, não poderia faltar um artigo de Alberto Dines, que ao assumir a direção do jornal, em 1961, consolidou a reforma gráfica e editorial iniciada por Odylo Costa, filho. Naquele artigo, ele sintetizou sua paixão e compromisso com o fazer jornalístico: “Nosso ofício, que começa e se esgota a cada fluxo, a cada novo dia, é o exercício da permanência, da duração. Por melhor ou pior que tenha sido a edição anterior, o que vale é a seguinte. E depois dela, a outra. É um nunca acabar, ou eterno renascer.”
Sua trajetória foi este eterno renascer, mas com um norte permanente, o compromisso com a verdade dos fatos, ainda que o tempo, as mudanças, as tecnologias, exigissem a adequação da forma, da linguagem e mesmo a atuação em diferentes plataformas. Homem das pretinhas, enfrentou a parafernália televisiva e a selva da Internet quando a ampliação das audiências passou a cobrar a atuação multimídia.
Outra de suas lições também está contida na frase acima: a auto-exigência de qualidade, pois neste ofício humano por excelência, ninguém escapa da imperfeição e do erro. Desde que sejam reconhecidos, o importante é fazer o melhor possível na edição seguinte.
Foi na televisão, e não no jornalismo impresso, onde ele pontificou, e eu fiz a maior parte de minha vida profissional, que encontrei Dines. Deixei o jornal O Globo para enfrentar o desafio de implantar a primeira televisão pública nacional, a TV Brasil. O Observatório da Imprensa já existia na grade da TVE do Rio, incorporada pela nova emissora. O programa de Dines tinha que ser mantido, decidimos logo na montagem da nova grade. Anualmente, eu enfrentava os obstáculos da burocracia para renovar o contrato do programa. Neste período, além das edições semanais, que fazia com absoluta independência, ele realizou um trabalho que lhe deu grande alegria, o documentário sobre os 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.
Fazer o Observatório na TV Brasil, mantendo também o site de mesmo nome na Internet, foi o último e valoroso combate de Dines. Infelizmente, com as turbulências do impeachment em 2016, a EBC sofreu uma intervenção e o programa saiu do ar.
A coleção de programas gravados por Dines constituem um acervo valioso para os interessados no debate sobre a imprensa brasileira nos anos recentes, em que jornalismo foi tão impactado pelas tecnologias, pela globalização e pelos conflitos políticos que continuam a dividi-lo. Em seus programas, não havia assunto interditado para Dines. Mas, com seu modo muito peculiar de entrevistar e conduzir o debate, com suavidade sem perder a firmeza, Dines tratava de todos eles sem resvalar para a beligerância, como ocorre no terreno pantanoso das redes.
Vai-se um mestre, ficam as lições.