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Dez motivos para amar fake news

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Nos últimos meses li tanta notícia sobre fake news, que até li fake news falando sobre fake news, o que me fez pensar em ensinar a famosa receita do desastre, que vou passar a transcrever. Sem policiamento e sem punição, as fake news correm soltas. Com um serviço de VPN (rede privada virtual), você pode esconder sua localização e ainda usar várias camadas de endereços virtuais para se proteger. Se você conseguir acessar de um computador sem registro e se conectar na internet através de um servidor público ou através de um serviço anonimamente pago com cripto-moedas, você fica ainda mais invisível.  Adicione softwares que copiam outros sites de notícias em menos de um minuto ou modelos de sites que simulam jornais de alta qualidade.  Bata tudo com softwares que criam milhares de contas em redes sociais para curtir, compartilhar, comentar e visualizar e você tem a parte técnica pronta para divulgar fake news. Depois acrescente uma pitada de propaganda paga no Facebook e no Instagram. Depois de 30 minutos no forno a 110 graus, adicione um time de escritores treinados para criar discórdia. Et voilà, sua receita está pronta e longe da lei!  Sua fake news tem tudo para se espalhar, criar confusão e manipular o comportamento e valores da sociedade. Cheiro de desordem, gostinho de maldade! Uns criam fake news para gerar receita de publicidade dentro do seu próprio site; outros criam fake news para ganhar grandes quantias para derrubar um concorrente empresarial ou político. Cuidado para não confundir com outras receitas semelhantes dentro do mesmo livro de receitas de desastres. Nesses livros também encontramos cyberbullying, cyberstalking, ransomware, ataques cibernéticos, pirataria, phishing, spam, fraude de cartão de crédito, terrorismo cibernético, tráfico de drogas, prostituição infantil e muitos outros crimes que rolam livres na internet.  No caso das fake news, o anonimato é usado para divulgar notícias negativas, degradantes, difamadoras e, como são equipes de profissionais armados de técnicas e de software, eles conseguem “gritar” mais alto na Internet, criando um verdadeiro desequilíbrio. Todos devem ter o direito de uma voz na internet: e sempre de bondade e inclusão. Por isso o título: “10 motivos para amar Fake news”. Vamos começar? 

1 - O Brasil acordou para as fake news O brasileiro despertou para a presença das fake news nos grupos de WhatsApp, no Facebook, no papo do bar e agora sabe que, em ano de eleição, vão surgir muitas fake news e que ele deve evitar interagir e reportar as notícias falsas, sejam do seu político favorito, como do político da oposição.  Não adianta compartilhar fake news do outro partido e fingir que é verdade. Estamos em 2018, todo mundo já é grandinho para jogar o jogo de maneira justa.  O brasileiro também aprendeu a reportar fake news, conteúdos impróprios e contas falsas. Afinal, interagir com o conteúdo como comentar, compartilhar e até “descurtir”- com o polegar para baixo - só dão mais popularidade às indesejadas fake news. 

2 - Está na hora de falar sobre internet com a sua família A molecada da família e os avôs e avós estão precisando de você este ano! Está na hora de avisá-los sobre os perigos da internet. Sabe aquele papo de cyberbullying com seu filho, aquele papo do e-mail falso com conta para pagar (pishing) com a vovó? Aproveita e inclua o assunto das fake news e ajude-os a detectar mensagens falsas antes de compartilhar.  Se quiser, ainda, falar sobre as fotos e vídeos bobos do Instagram, aproveite a oportunidade. 

3 - Boa hora para limpar contatos do Facebook Sabe aquele conhecido que adora compartilhar fake news e sempre de notícia negativa, anunciando o fim do mundo e os problemas do outro partido? Está na hora de excluir essa pessoa e ser feliz.  

4 - Fim da guerra dos comentários Com tanta fake news, ficou impossível discutir com todo mundo o tempo todo nas redes sociais. Então, o brasileiro aprendeu! Se for fake news ou conteúdo impróprio, reporte para a rede social e ajude a dar um basta! Se for somente uma opinião contrária à sua, tenha paciência para deixar o bom senso fazer o trabalho dele. Lembre-se da etiqueta nas redes sociais: Seja positivo ou resista à tentação de comentar. E cuidado com rixas na internet, você tem uma reputação online para zelar. Se você ainda não acredita em mim, pense no velho ditado Sufi: “Antes de falar, deixe as suas palavras passarem por três portais: É verdade? É necessário? É gentil?” Não subestime a capacidade do bom senso. É devagar, mas sempre funciona. 

5 - Rir das fake news absurdas e ridículas Podem rir, podem se divertir e até fazer um campeonato das notícias mais engraçadas e absurdas. Acho que você vai precisar fazer uma planilha para controlar a votação da vencedora, porque serão muitas este ano. Brasileiro é um povo criativo, então se prepare para rir muito. 

6 - Fim do cyberbullying Aproveitando que o cyberbullying também cria fake news, e que muitas das contas de redes sociais que espalham boatos são falsas, vamos aproveitar este momento de abundância de fake news para eliminar este outro problema da nossa sociedade – o cyberbullying. Vamos reunir a garotada e avisar que cyberbullying é muito feio e que o próprio bullying na vida real também é. E, por favor, vamos evitar aquele papo de que no seu tempo não tinha essa proteção que tem hoje! Se você sofreu ou machucou alguém quando era criança, não deixe seu filho passar pelo mesmo constrangimento. 

7 - Fim do phishing Agora que as pessoas sabem que existem notícias falsas, está na hora de perceberem que existem e-mails falsos também. Esses e-mails simulam contas para pagar, prêmios de loteria, brindes, empresa de prestação de serviços como bancos, internet, telefone, TV a cabo. Esses criminosos têm sites iguais aos das empresas reais e têm até central telefônica própria. 

8 - Conscientização sobre privacidade Recentemente tivemos o escândalo da Cambridge Analítica, que levou ao depoimento do CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, no Congresso americano. A empresa Cambridge Analítica trabalha com políticos e usou programas dentro do Facebook para colher informações sobre seus usuários e divulgar notícias que influenciassem seus votos. Também sabemos que o próprio Facebook usa tecnologia de Big Data e Inteligência Artificial para nos manter mais viciados e faturar mais alto com os anunciantes.  A crise de privacidade nos alertou para o perigo das nossas informações online, onde divulgamos nossas informações pessoais, que podem ser usadas por hackers e gigantes da tecnologia para tentar nos influenciar. Dessa forma, você pode receber uma fake news que foi dedicada ao seu grupo sócio-econômico. O objetivo é dar a notícia certa que terá mais chances de manipular seu comportamento. 

9 - Fortalecimento dos grandes meios de comunicação Com a proliferação de notícias falsas, os leitores vão buscar os meios de comunicação de maior reputação e vão tentar averiguar se os grandes jornais também estão divulgando as notícias. O fortalecimento dos grandes meios de notícia, esclarecendo os leitores e apontando as notícias falsas, significa maior renda para os jornais e consequentemente melhor qualidade para os leitores.

10 - Conscientização sobre falta de segurança e anonimato na internet A internet vive ainda a época do Velho Oeste – com muitos crimes impunes. Como os hackers podem navegar anonimamente, publicar conteúdo e enviar e-mails, nós nos tornamos desprotegidos na internet. Cyberbullying, fake news, falta de privacidade são apenas os três primeiros assuntos que ganharam escala nacional sobre a internet. Porém, estamos acordando para ter melhor policiamento, investigação, leis e um sistema preparado para trabalhar com essas ameaças. Antes de acabar, eu só quero deixar uma dica final para sua segurança na internet: “ligue o fator de dupla autenticação nas contas da internet da sua família”.  Essa técnica envia um SMS para você com um código toda vez que sua conta é acessada de um computador desconhecido. Acesse os sites dos seus e-mails, bancos e redes sociais. Troque a senha por uma senha bem difícil, misturando maiúsculas e minúsculas, juntando símbolos e a habilite à dupla autenticação. Você pode procurar na sua ferramenta de busca favorita como ligar a autenticação de dois fatores para os sites das empresas que você usa. Com esses cuidados, com certeza a receita de desastre não vai sair bem assada do forno!

* Hacker ético, sócio da empresa de reputação online Silicon Minds e autor dos livros “Segredos de Reputação Online” e “O negócio sujo das Fake News”