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Ecologia - Água, governança e exemplos

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Uma brincadeira de realidade virtual – asa delta com equipamento 3D que simula um voo sobre rios brasileiros – foi uma das principais atrações para o público no “8º Fórum Mundial da Água”, que acaba de ser realizado em Brasília. Foi o maior evento deste tipo realizado na história (o primeiro no Hemisfério Sul), contando com representantes de 172 países e 85 mil visitantes. 

Mas não precisamos do mundo virtual para sabermos a relevância da temática água e seu impacto para o planeta. Inundações repentinas, escassez onde antes havia abundância...o clima está cobrando a conta do “animal pensante” e tão irremediavelmente devastador da biodiversidade. Ou alguém ainda duvida que não há outro motivo para a repentina “cachoeira” formada em plena Avenida Niemeyer? No Fórum da Água, a Conferência de Ministros aprovou a declaração intitulada “Chamado urgente para uma ação decisiva sobre a água”, fruto das discussões entre ministros e chefes de delegação de mais de 100 países. O documento, produzido por 56 ministros e 14 vice-ministros de 56 países, estabelece ações prioritárias para enfrentar os desafios relacionados ao acesso à água e ao saneamento. Educar, conscientizar e divertir foi o objetivo maior da Vila Cidadã, um sucesso absoluto de público. O espaço ofereceu variada agenda de atividades para dezenas escolas do Distrito Federal, além de crianças, jovens e famílias que se encantaram com as atividades interativas, as experiências de realidade virtual, oficinas e filmes. 

É imperioso abrirmos os olhos não apenas para a questão da água limpa que chega em nossas torneiras, mas também, em meio à realidade virtual, do vergonhoso número de 100 milhões de brasileiros sem acesso à coleta de esgoto. Nem é preciso procurar rincões longínquos: em qualquer periferia de megalópole ou cidade média há padrões de saúde pública beirando padrões inaceitáveis para um animal, quiçá para um ser humano. Também foi anunciado no evento a criação do Instituto Global do Ministério Público, uma espécie de “Liga da Justiça” para fiscalizar e trocar informações sobre crimes ambientais. O Instituto reúne membros de ministérios públicos de diversas nações do mundo em torno de temas ligados à proteção dos recursos naturais. Vamos combinar – há muito do que nos orgulharmos. Como nos ensinou a professora de Geografia no tempo do Clássico ou do antigo Primário, o Brasil tem 12% da água doce do planeta e a região amazônica concentra cerca de 80% da disponibilidade hídrica do país. O drama, como mostrou reportagem da Economia do Jornal do Brasil no domingo anterior é que 70% do uso da água é para a agricultura e pecuária. Agro é pop, agro é tech, agro é água. Calma. Não estamos mirando na direção deste setor tão pujante quanto desenvolvimentista, carreando o crescimento nacional. Estamos apenas registrando dados. Sobra água na Amazônia e Pantanal. Viva! Rende fotos maravilhosas em nossa Plurale e recomendamos que vejam para conferirem a poesia na alma de nossos fotógrafos, como na Edição 61 que acaba de sair. 

Mas – como já vivenciamos, há crise hídrica em grandes centros e quase chegamos ao clima de “guerra” entre estados e cidades vizinhas por conta de mananciais estratégicos. O Fórum alertou que “90% da população mundial depende de recursos hídricos transfronteiriços”.  O evento emblemático em Brasília apresentou também bons exemplos a serem seguidos. Como projetos que “semeiam” para colher água em vários lugares ou outros que preservam. De pessoas físicas, ONGs, empresas e governos. Um verdadeiro leque de alternativas louváveis para serem multiplicadas por mim, você ou diferentes municípios. 

Como o Projeto Oásis, patrocinado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, usando a metodologia do “pagamento por serviços ambientais”, dando ao homem do campo uma remuneração justa pelo o que ele faz há anos – proteger a natureza. Jovens da Amazônia reaproveitaram galões grandes para recolherem água de chuva boa para reúso. Jovens voluntários de diferentes cidades estão ajudando a colher amostras de águas de rios para monitoramento, parte do projeto “Observando os rios”, da ONG SOS Mata Atlântica. Atualmente, são 252 grupos de monitoramento que analisam a qualidade da água em 307 pontos, 247 corpos d´água, em 104 municípios de 18 estados, como Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, envolvendo cerca de 3,6 mil pessoas. 

O CREA-Minas lançou cartilhas com foco em água e sustentabilidade, com o propósito de informar profissionais da área tecnológica sobre a importância da contribuição desse setor para a promoção do desenvolvimento sustentável do Brasil e do mundo. E a Coca-Cola –bombardeada globalmente há alguns anos justamente pela questão da água na Índia e em outros países – anunciou a abertura – até o fim deste ano - de oito fontes da sua água Crystal para o público em cinco estados brasileiros. Até agora, 18 empresas já assinaram o documento e se comprometeram com a gestão responsável da água, com a promoção da eficiência hídrica nas indústrias e com o combate ao desperdício. O bom senso imperou, São Pedro ajudou, mas especialistas de diversas matizes e regiões presentes no Fórum Mundial da Água, deixaram claro que este é um assunto premente, que exige governança e gestão para o benefício das presentes e futuras gerações.