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O binômio segurança pública - mobilidade urbana

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As estatísticas e os fatos revelam que a maioria do povo brasileiro carece, cada vez mais, de ser atendido em suas necessidades humanas básicas, tais como saúde, educação, habitação, saneamento básico, nutrição, segurança pública e mobilidade urbana, sendo que as deficiências no atendimento dessas duas últimas questões vêm atormentando, desgraçando e limitando, em grande escala, a vida dos habitantes de nossas médias e grandes cidades, desde o final do século passado. 

Nos dias de hoje, eu excluiria a segurança pública e a mobilidade urbana do rol das necessidades humanas básicas e passaria a considerar esses itens como pré-requisitos para que as demais necessidades possam ser alcançadas ou oferecidas. Dessa forma, o binômio segurança pública - mobilidade urbana seria o alicerce para a construção de cidades humanas e socialmente justas, visto que esses dois serviços públicos são os únicos que participam e afetam cotidianamente as vidas de todos os cidadãos, independentemente de raça, credo, idade ou posição social. 

Defendo a tese de que uma sociedade que não dispõe de uma segurança pública confiável, justa e eficaz, e de um transporte público abrangente, integrado e competente não poderá proporcionar bem-estar e felicidade para todos os seus membros, visto que essa mesma sociedade não será capaz de oferecer a seus integrantes os principais benefícios para uma vida digna e com bem-estar, tais como hospitais, escolas, redes de água e esgoto, habitação e alimentos. 

Como exemplo, vou citar o caso de Santiago do Chile, que, apesar de ser considerada uma cidade de grande porte, com os mesmos problemas sociais das grandes cidades brasileiras, seus cidadãos usufruem de uma tranquilidade quase provinciana e bucólica, vivendo seguros e tendo à disposição um eficiente transporte público, baseados em trens, metrôs e ônibus. A vida corre mais fácil, menos estressante e mais proveitosa, uma vez que a mobilidade urbana e a segurança estão garantidas. 

No caso das grandes cidades europeias, onde sempre há segurança pública e transporte de qualidade, as pessoas são mais afortunadas em suas vidas urbanas, pois podem passear pelas vias públicas a qualquer hora do dia e da noite, assim como os turistas, com poucas chances de serem assaltadas ou sofrerem violências e com seus deslocamentos garantidos, pois o transporte está disponível o tempo todo, seja por meio de ônibus, bonde, metrô ou trem. 

Penso que segurança pública e transporte público, em nosso país, deveriam ser serviços onipresentes e despercebidos pela população, ou seja, deveriam simplesmente existir, como obrigação do Estado, prontos para serem usados quando necessário. Dessa forma, as pessoas poderiam empreender novos negócios, bem como programar suas vidas, seus passeios, seus trabalhos e suas compras, da maneira que melhor lhes conviessem, pois teriam a certeza que haveria o transporte para levá-las e trazê-las de volta, e que as ruas não seriam palcos de assaltos e agressões. 

Entendo que, no Brasil, qualquer política pública de atendimento das necessidades humanas básicas, de erradicação da pobreza e de incentivo ao crescimento econômico e social somente poderá ser bem-sucedida se estiver fundamentada no binômio segurança pública - mobilidade urbana. Esse binômio é bom para todo mundo, inclusive para seus mantenedores políticos. Logicamente, as demais necessidades básicas devem ser trabalhadas concomitantemente, mas com a certeza de acessibilidade e segurança da população. Com segurança pública e transporte público, os investimentos privados certamente terão menos riscos e maiores expectativas de lucros e de geração de empregos, o turismo poderá recrudescer e o comércio renascerá, entre outros benefícios econômicos. Isso, sim, é qualidade de vida autossustentável. 

Por fim, segurança pública e transporte público são investimentos de grande monta, de médio e longo prazos, mas com retornos sociais, econômicos, políticos e humanísticos garantidos. São questões que não podem ser contornadas com interesses partidários e ações empíricas, paliativas ou maquiagens políticas, haja vista que os fracassos sempre resultam em perdas de vidas humanas. A sociedade roga aos legisladores e governantes, atuais e futuros, que percebam a importância e gravidade da situação que atinge a todos, inclusive a eles próprios e a seus familiares, e mantenham tomem ações imediatas em prol do bem-estar coletivo. 

* Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, mestre em Transportes pelo IME e professor da FGV