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O caminho da prosperidade é o liberalismo

IVES BRAGHITTONI*

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“O menino é pai do homem”. Machado de Assis ficou tão encantado com esse trecho do poema de William Wordsworth que o usou como título para um capítulo inteiro de sua obra-prima, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. As escolhas estão abertas ao homem e ao menino; é inevitável, todavia, que aquele traga consigo os resultados das decisões deste. Ou, colocando de uma forma mais simples, por maior que seja o raio de ação de uma pessoa, uma empresa ou um país, o que se vive hoje é resultado direto do que se fez no passado. Talvez o Bruxo concordasse também com “somos livres para escolher, mas prisioneiros das conseqüências” (não, o autor não é Neruda). 

Nossas escolhas nos seguem, como sombras insistentes de uma luz que não está mais lá. Mais do que isso, elas se tornam parte de nós. A liberdade é fascinante, e ao mesmo tempo assustadora exatamente pela causalidade inevitável que traz consigo. Para o bem e para o mal, nunca se pode ser livre de si mesmo. 

E o que vale para pessoas, é fato, vale também para empresas e até países. As escolhas se espraiam, indo e voltando, com suas conseqüências sempre mutáveis, deslizando nas vastas areias do tempo. A explicação de como um país “está” não reside apenas no que ele “é”, mas essencialmente no que ele “era”. O ontem é pai do hoje. 

E poucas coisas são tão úteis para se explicar como um país “está” do que entender sua história, sua economia e, principalmente, a história de sua economia. Por que, exatamente, a vida do filho de um faxineiro na Suíça ou na Austrália é tão diferente da vida do filho de um faxineiro no Brasil? E deste da de um nascido em Burkina Faso? O que explica tamanha diferença? 

Brasil e EUA tinham exatamente a mesma renda per capita em 1820. A Suécia tinha renda per capita equivalente à do Congo em 1850. Hong Kong era nada além de uma ilhota rochosa e miserável em 1950. A renda per capita do Chile era igual à do Brasil até os anos 80 – hoje é mais do que o dobro. Qual foi, exatamente, o caminho da prosperidade de cada um desses países? 

As teorias para explicar o abismo entre diferentes nações são incontáveis. Clima, geografia, povo, cultura do povo, religião, educação, genética, ter sido colônia, não ter sido colônia, quem colonizou... E são todas facilmente refutáveis por inúmeros exemplos que nunca se encaixam, qualquer que seja o critério escolhido. 

Exceto um. Há um critério simples que explica pobreza e riqueza das nações. Chama-se “liberdade econômica”. Nada além da faceta econômica do conjunto de ideias político-filosóficas chamada “liberalismo”. 

Países com altos índices de liberdade econômica prosperam e se tornam ricos. Não existe exceção. Existem percalços e variações pontuais, mas não existe exceção. Países com baixos índices de liberdade econômica definham ou se mantêm na pobreza (que não é “criada”, é – infelizmente – o “estado natural”). Não existe exceção. Nem mesmo quando o país detém as maiores reservas de petróleo do mundo, como a Venezuela. 

Já houve tempo em que era mais árduo explicar-se o assunto, dada a relativa dificuldade de mensurar a liberdade econômica. Com o trabalho nas últimas décadas das fundações Heritage e Fraser, que criaram metodologias objetivas e rigorosas, hoje existe métrica clara para se definir o exato grau de liberdade econômica de cada país. O acompanhamento do resultado dos estudos dessas fundações, ano a ano, é tarefa tão fascinante quanto obrigatória para qualquer um que pretenda entender um mínimo sobre a questão. 

O liberalismo é o caminho. Menos impostos, menos proibições, menos dificuldade para trabalhar e fazer negócios, mais liberdade para cada um fazer o que souber melhor. Não é uma lição tão difícil. 

O amanhã é filho do hoje. O vento da História sopra forte em nossos ombros, com toda carga de oportunidade e responsabilidade que isso representa. É hora de lutarmos pelo liberalismo, que é o caminho da prosperidade.

*Advogado, professor e especialista do Instituto Mises Brasil