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ONGs reafirmam que vão retirar trecho que inclui sociedade civil no texto

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Após o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, voltar atrás e declarar que o texto final da Rio+20 não sofrerá mudanças, representantes da sociedade civil insistiram no repúdio ao conteúdo do documento. Por meio de manifestos e petições, ONGs, como a Greenpeace e a S.O.S. Matatlântica, reafirmaram a vontade de retirarem do texto o trecho que fala de “plena participação da sociedade civil” nas decisões da Conferência. 

Representantes de Organizações Não-Governamentais (ONG) – apenas um deles veio à conferência falando em nome de mais de mil pequenas ONGs – demonstraram seu descontentamento com as proposições do texto, consideradas dúbias e omissas. 

No embalo do descontentamento, muitos participantes da Rio+20 realizaram manifestação e abandonaram a conferência, na tarde desta quinta-feira (21). Mais de sessenta manifestantes caminharam pelos pavilhões entoando palavras de ordem e sentaram-se no chão. Em um dos cânticos, eles afirmavam que "o futuro que queremos não será feito aqui", criticando a falta de ousadia dos chefes de estado durante as negociações. Ao cruzarem a saída do evento, devolveram seus crachás de credenciamento aos organizadores. 

Na quarta-feira (20), o representante da Rede Ação Climática, Waek Hamidan, leu carta, em nome da sociedade civil, exigindo que fosse retirado o trecho “com a participação plena da sociedade civil” no texto final da conferência. A reivindicação foi endossada por representantes de milhares de ONGs, que estiveram presentes ao longo do processo de elaboração do documento antes e durante as negociações das delegações diplomáticas. 

Manifesto

Além desta iniciativa, um grupo de personalidades notáveis no campo da militância ambiental - que conta com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina da Silva, o coordenador mundial do Greenpeace, Kumi Naidoo, a emblemática leitora da carta às nações da Rio 92, Severn Suzuki, entre outros - elaborou um manifesto, chamado “A Rio+20 que não queremos”, no qual esclarece que "não compactua nem subscreve" o documento final. O manifesto foi lançado nesta quinta-feira, às 15h, em coletiva de imprensa, e lido por Suzuki. Às 19h, a adesão já havia triplicado.  

Para o diretor de políticas públicas da ONG S.O.S. Matatlântica, Mario Mantovani, o governo brasileiro adotou postura “extremamente covarde” nas negociações da Rio+20. Ele contou que a ideia de reunir pessoas notáveis da causa da sustentabilidade surgiu na manhã desta quinta-feira (21), quando houve reação intensa ao discurso do libanês Hamidan.

“O Brasil perdeu a chance de ser um líder mundial”, lamentou Mantovani. Hoje de manhã estava um boca a boca muito forte sobre retirar o trecho do texto, e as adesões ao manifesto vieram como febre a este corpo doente”, revelou. 

O coordenador de processos internacionais da ONG Vitae Civilis, Aron Bielinky, analisou que existe um sentimento generalizado de que o documento é altamente insatisfatório.

“As críticas partem de lugares distintos, mas têm muitas coisas em comum: deixam claro que o documento final é fraco e está muito aquém das necessidades sociais”, disse Bielinky. 

O coordenador analisa que para se chegar a um acordo entre os chefes de governo foi passada uma “plaina” por cima de muitos aspectos do desenvolvimento sustentável, e muitos assuntos relevantes e polêmicos sumiram do tratado. Bielinky revela, ainda,  que os signatários do manifesto desejam entregá-lo, em mãos, aos chefes de Estado na sexta-feira (22).  

A opinião é endossada pelo coordenador da campanha Clima e Energia do Greenpeace, Pedro Torres. De acordo com Torres, a marcha que reuniu 20 mil manifestantes no Centro do Rio na quarta-feira mostra um descompasso entre as atitudes dos Estados e da sociedade civil. 

Ao ser indagado sobre o que acontecerá depois de finda a Rio+20, Torres retrucou: 

“Nós que perguntamos à ONU: qual o próximo passo?”, disparou. “Milhões de dólares foram gastos, milhões de toneladas de carbono foram lançadas na atmosfera. Por quê?” 

África e Pnuma

De acordo com Pedro Torres, o que se fala nos bastidores é que os países da África queriam reabrir o texto final para discutir a transformação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em uma agência. A proposta, que estava entre as maiores expectativas para a Rio+20 e era defendida pelo Brasil, foi retirada do texto nas negociações entre as comitivas. Os próprios diplomatas brasileiros entenderam que era mais vantajoso garantir um texto de consenso do que insistir na defesa da agência. 

Contudo, ressalta Torres, se o texto fosse aberto, haveria prerrogativa para outras releituras do texto - o que poderia inviabilizar uma resolução oficial para a conferência.