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Vania Dantas Leite, uma compositora para muitos tempos

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Faleceu, no último dia 10, Vania Dantas Leite, uma das mais interessantes compositoras brasileiras de música eletroacústica. Vania não se restringiu à composição, foi também eximia pianista, cravista, regente e professora da UFRJ e da Unirio. Em mais uma área na qual mulheres são minoria, o depoimento da amiga e compositora Jocy de Oliveira ressalta esse fato: “ Ela escolheu o silêncio – parâmetro cada dia mais raro nesta terra sofrida que não mais ouve. Ela parte em silêncio com sua beleza e talento que generosamente passou a tantos discípulos! Uma mulher compositora que nos deixa e me faz sentir mais só”.

Vania esteve entre os pioneiros da música eletrônica brasileira (Foto: Arquivo Pessoal)

A música eletroacústica (ME) surgiu nos anos 50, com a música concreta na França e a música eletrônica alemã. A ideia era incorporar a produção de sons eletrônicos às composições. Apesar de ter dado origem a sons usados hoje na música pop e aberto caminho para diversos gêneros da música atual, como o da computer music, a ME feita entre os anos 50 e 90 está hoje mais restrita às universidades e centros de pesquisa.

No Brasil Vania esteve entre os pioneiros da ME, como Rodolfo Caesar, Tato Taborda, Macalé, Vera Terra, entre outros que introduziram o gênero no cenário musical. Com a palavra alguns dos compositores próximos de Vania.

RODOLFO CAESAR: “Ela teve um papel super positivo, não só pela música que compôs (e improvisou, fato pouco mencionado), mas para toda turma que chegava no tempo dela e para quem chegou depois. Falo de uma coisa muito rara, chamada generosidade. Seu apartamento, e também seu estúdio, ali na saída do Rebouças, estavam sempre animados de visitas e atividades. Essa generosidade também se manifestava na estética, porque Vania não se fechava na celebração do gênero eletroacústico ou da música de concerto, tendo trabalhado com artistas de diversas áreas pelo prazer da experimentação e do convívio”.

TIM RESCALA: “Estudei com Vânia na Escola de Música Villa-Lobos no final da década de 70, quando ali foi reunido, graças ao então diretor da escola, Aylton Escobar, um time de professores surpreendente: José Maria Neves, Marlene Fernandez, Carol Gubernikoff, Rodolfo Caesar e Vania Dantas Leite, além de Hans-Joachim Koellreutter. Isso tudo numa escola do estado! Para mim foi um novo mundo sonoro que se abria. Tendo formação sólida como musicista, Vania construiu, ao longo de uma profícua carreira, uma linguagem ao mesmo tempo atraente e renovadora, equilibrando com maestria os instrumentos acústicos com os eletrônicos. Obras como ‘A-Jur-amô’ ficarão como referência de que é possível fazer uma música que ao mesmo tempo comunique, surpreenda e emocione”.

DANIEL PUIG, compositor de uma geração posterior, publicou uma entrevista com mais detalhes sobre o trabalho da compositora na revista LINDA.

Puig lembra da amiga como uma mulher que desbancou os limites dos sons na música eletroacústica e trabalhou muito pela formação de novas gerações de músicos na Unirio.

O maior reconhecimento do trabalho de Vania virá certamente com o tempo. Uma compositora que deixou abertas muitas portas para a música de hoje.

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