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Uma nota azul em meio à crise

Reprodução -
Sergio Mendes, Chick Corea e Chris Botti
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Basta fechar os olhos para me lembrar do piano incandescente de Chick Corea bem à minha frente, ou de Sergio Mendes colocando todos para dançar, após 30 anos sem se apresentar no Brasil. Além das noites em que matei as saudades de Tom Jobim, Luiz Melodia, Miles Davis, Chet Baker, Vinicius e Noel, graças a tributos memoráveis. Todas essas recordações inesquecíveis foram construídas no último ano, nas mesas do Blue Note Rio. A filial da icônica casa de jazz nova-iorquina, que abriu as portas no Rio em 30 de agosto de 2017, completa um ano como um sopro de esperança na contramão da crise que a cidade vive, com dezenas de estabelecimentos encerrando suas atividades. Um bunker de resistência na luta pela arte e pela cultura.

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Sergio Mendes, Chick Corea e Chris Botti (Foto: Reprodução)

O desafio de trazer uma casa de shows internacional, conhecida mundialmente por sua tradição e excelência, e adequá-la ao gosto do carioca era grande. Era, não. Continua sendo. À equipe de Nova York foi preciso explicar, por exemplo, a praxe brasileira de o garçom levar a garrafa de uísque e servir na frente do cliente, em vez de simplesmente entregar o copo já com a dose certa. Ao público, a cultura de dois shows por noite, sem lugares marcados, no padrão “first come, first served”. Detalhes que complicam ainda mais a difícil logística de uma equipe que precisa equilibrar pratos, copos e talheres, sem atrapalhar a visão da mesa de trás.

Muito mais do que as adequações culturais, foi preciso saber lidar neste primeiro ano com problemas nacionais e locais, como a greve dos caminhoneiros, a guerra do tráfico da Rocinha e a já conhecida e constante crise de segurança que vivemos na cidade. Foi preciso fôlego e muito trabalho para driblar esses problemas e manter a casa com uma programação de qualidade, com preços acessíveis a todos os amantes da boa música.

Ao longo deste primeiro ano, foram centenas de shows com o melhor da cena nacional e internacional, e não só do jazz (Eliane Elias, Kenny Garrett, Incognito e Chris Botti), mas da Bossa Nova (Sergio Mendes, Marcos Valle, João Donato, Carlos Lyra), da MPB (MPB4, Moyseis Marques, Toquinho, Ney Matogrosso, Baby do Brasil e Fafá de Belém), do hip hop (Marcelo D2, Jesuton), e do samba (Mart’nália, Martinho da Vila, Jorge Aragão), além de homenagens, como ao Dia Internacional do Jazz e ao extinto bar Semente, ícone da Lapa.

Difícil resumir todos os grandes shows e momentos que a casa viveu. Mas é possível pensar no importante compromisso que se tem pela frente: a luta pela cultura. Uma cidade que incentiva a música e arte tem mais educação e menos violência. Esta escolha depende de todos nós.

Vida longa ao Blue Note Rio e a todas as casas de shows que, semanalmente, proporcionam espetáculos de altíssimo nível na nossa cidade.

A música nos permite sonhar com um Rio melhor.

BEBOP

Lançamento adiado

O saxofonista Wayne Shorter, que completou 85 anos no último sábado, adiou para o dia 14 de setembro o lançamento mundial de seu álbum triplo “Emanon” (Blue Note Records).

Tags:

jazz