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Hora da TV

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A partir de amanhã a campanha eleitoral invadirá a intimidade do eleitor, por mais indiferente que ele esteja, com o início dos programas de candidatos no rádio e na televisão. O porcentual dos indefinidos irá se reduzir, e muitos dos que se dispunham a votar em branco ou nulo podem mudar de ideia. De tão gritante a desigualdade do tempo entre os candidatos, ditada por uma regra antidemocrática, imposta pelas grandes siglas, o TSE aceitou ontem um arranjo em favor dos que têm menos de 30 segundos para dar seu recado.

Está claro que as redes sociais terão seu peso nesta eleição mas ele ainda é imprevisível. Da mesma forma a influência do rádio e da televisão, decisiva no passado, estará sendo testada. A TV aberta ainda é a provedora de informação e entretenimento da maioria absoluta da população, num país de grande exclusão digital, ou de conexão limitada ao telefone celular, mas sua força eleitoral pode ter sido afetada pelo encurtamento da campanha eletrônica e pelo uso intensivo das novas mídias.

horário eleitoral (dois blocos diários de 25 minutos) tinha o dobro do tempo de duração há 20 anos. O encurtamento de sua duração em dez dias, este ano, favorece os que já são mais conhecidos. Logo, os que têm mandato, dificultando a renovação das casas legislativas e o surgimento de lideranças políticas nova.

Aos candidatos a presidente o horário eleitoral garantirá a aparição em 15 programas ao longo de 35 dias. Ter um bom tempo de televisão é um ativo cobiçado mas não produz milagres. Mas, por outro lado, um tempo irrisório, como o de Marina Silva (25 segundos) ou o de Bolsonaro (8 segundos) podem ser altamente prejudiciais.

Anomalias

A desigualdade do tempo garantido aos candidatos este ano é uma evidência gritante das deformidades e disfunções de nosso sistema eleitoral. Garantir a um candidato um tempo de exposição que não lhe permitirá passar ao eleitor uma mensagem com sentido completo é uma hipocrisia. Foram os grandes partidos que aprovaram, na lei eleitoral, a regra pela qual o tempo é dividido proporcionalmente ao tamanho das bancadas federais. Com o nível de fragmentação partidária que temos, dá nisso, em candidatos com menos de 30 segundos de tempo de rádio e TV. Na eleição passada, ninguém teve menos que 45 segundos mas agora há mais candidatos e menos tempo a ser rateado. O correto seria dividir o tempo total em duas metades. Uma, a ser distribuída igualmente entre todos os partidos que tenham candidatos registrados, e outra a ser distribuída proporcionalmente ao tamanho das bancadas. Assim é feito com o fundo partidário e com o fundo eleitoral.

Tão gritante é a disparidade que ontem a presidente do TSE, Rosa Weber, aceitou a proposta que permitirá aos partidos com tempo inferior a um minuto fazerem permutas que lhe permitam fazer aparições mais longas, embora em menor número. Pelo menos poderão dizer alguma coisa com começo, meio e fim. Isso beneficiará, principalmente, Marina Silva e Jair Bolsonaro.

O candidato que mais aposta no horário eleitoral é o tucano Geraldo Alckmin, por ser dono de mais de 5 minutos, 44% do tempo total. Se em duas semanas ele não crescer, como tem prometido, corre o risco de ver mais aliados tomando outros rumos. Bolsonaro compensa seu tempo exíguo com o território fechado que tem na Internet mas Marina pode ser muito prejudicada por seu tempo irrisório, assim como Ciro Gomes, entre os competitivos.

O PT se organizou para ter Lula como candidato no programa de sábado mas o TSE poderá decidir amanhã por sua exclusão. Lula, neste momento, é um candidato sub judice. Seria a primeira vez que o TSE negaria o acesso ao horário eleitoral a um candidato, antes de concluído o julgamento sobre sua inelegibilidade. Muitas coisas têm acontecido no Brasil pela primeira vez, e todas vão sendo assimiladas como naturais...