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Dalai Lama faz 4ª visita ao País e prega ética a empresários

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Vindo de Buenos Aires, na Argentina, com atraso de duas horas e nove minutos, a Sua Santidade o 14º Dalai Lama chegou ao Brasil na tarde desta quinta-feira para realizar uma palestra exclusiva para convidados no teatro do World Trade Center, na zona sul de São Paulo. Com o tema "Nova Consciência nos Negócios - Valores para um Mundo Sustentável - Um Movimento de Transformação", o líder religioso atraiu a presença de empresários e do vice-governador do Estado, Guilherme Afif Domingos, que, sentado na primeira fila, assistiu à palestra ao lado de monges budistas. Em sua quarta visita ao País, a missão do Dalai Lama foi inspirar a reflexão de lideranças empresariais sobre a economia do novo milênio.

Bem humorado, o líder religioso chegou às 16h39 ao palco ladeado por seguranças e por tradutores. A passos lentos, sorrindo, ele disse que chegara quase na hora de dormir e que era apenas um monge budista em meio a muitos empresários. "Geralmente eu me descrevo como um simples monge budista. Não há nada o que discutir com empresários se eu sou um simples monge budista", brincou. Em sua partipação no evento, que durou uma hora, o 14º Dalai Lama pregou o altruísmo e a ética moral para reduzir o fosso entre ricos e pobres no mundo.

"Temos de prestar séria atenção para reduzir a lacuna entre ricos e pobres. E vocês (apontando para a plateia de empresários) têm condições de ajudar. Ajudem mais os outros. Se vocês, honestamente, genuinamente, tiverem atitudes mais altruístas, vocês terão mais amigos e mais respeito, mais confiança com demais membros da comunidade. Claro, todos somos egoístas, mas é muito melhor ter um egoísmo sábio do que tolo. E aos industriais, prestem atenção aos problemas da ecologia. Os atentados de 11/9 também aconteceram em função de erros ou sintomas dos erros do século passado. Tudo isso é um sintoma de erros e negligência. Temos de tentar criar e fazer o século 21 o século do diálogo. É impossível eliminar os problemas, mas cabe a nós solucionar sem o uso da força. Uma negociação a partir do diálogo", propôs.

O líder lembrou ainda a crise econômica de 2008 e refletiu sofre as consequências dos problemas mundiais na área. "Temos o desenvolvimento da ciência e da tecnologia que por si só talvez nem sempre podem garantir uma felicidade maior. O dinheiro também não pode manter isso. Por causa do dinheiro temos essa imensa lacuna entre ricos e pobres. O nosso futuro depende da humanidade como um todo, e não dessa ou daquela nação. Portanto, esse conceito "nós" e "eles" é a base do conceito da guerra e da destruição do seu vizinho. mas hoje a destruição do seu vizinho é a destruição de si mesmo", afirmou Dalai Lama.

Respondendo a perguntas da plateia após 30 minutos de discurso, o Dalai Lama pregou um economia sustentável no Brasil, com a proposta de planos econômicos com sentido mais holístico. "Temos de pensar nos recursos da natureza. Não faz sentido passar batido todos os recursos naturais em prol do desenvolvimento. É melhor então preparar sua mente, porque haverá limites. Sem falar em desastres recentes também (citando o crescimento da economia do Japão e o recente terremoto). Acho que o Brasil tem muito sucesso como Estado. Penso que um plano econômico (no País) deve ser mais holístico e sustentável. O resto da América Latina está de olho nesse País. Porque simplesmente copiar a América ou Estados Unidos? Não. Pensem em uma economia mais sustentável, com danos ecológicos mínimos e reduzir, finalmente, a lacuna entre ricos e pobres, e desmilitarizar", pregou o Dalai Lama, que também criticou o sistema educacional no mundo.

"A educação de hoje não presta a atenção adequada à importância das questões do coração. As pessoas que planejaram os ataques de 11/9 tinham um cérebro ótimo, mas conduzido pelo ódio. Há tantas conquistas científicas maravilhosas usadas para gerar mais sofrimento. Não há nada errado na ciência ou tecnologia, mas às vezes o uso envolve alguma coisa errada. Portanto, precisamos encontrar uma educação universal, uma educação moral. Se dependermos só da fé religiosa, jamais será algo universal. É por isso que a educação secular com foco no coração, isso sim, pode ser universal", disse.

O Dalai Lama afirmou ainda que o Brasil deve servir de exemplo para o mundo e conduzir o seu desenvolvimento econômico com base nas questões morais e com foco no altruísmo. "Acho que vocês, do Brasil, podem mostrar aos demais o trabalho dos negócios com princípios morais, com uma motivação mais altruísta. Se você se centra muito em si, você se torna um prisioneiro. Portanto, pratiquem uma atitude altruísta, não necessariamente para praticá-lo pura e simplesmente ou por uma atitude religiosa. Se você fizer bem para os outros, você terá benefícios. É a lei da causalidade. E deve haver também um terceiro caminho, sem falar na religão, mas usando nossa experiência com bom senso".

Teste de paciência

A chegada do Dalai Lama a São Paulo, e posteriormente ao local da palestra, foi um "teste de paciência". Devido às condições climáticas, o avião que trouxe o líder religioso da Argentina demorou a pousar no Aeroporto Internacional de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. Ao pousar, Dalai Lama deixou o aeroporto de helicóptero em direção à zona sul para reduzir o atraso. Porém, no meio do trajeto, a aeronave teve de retornar, novamente, por falta de teto. De volta a Guarulhos, a Sua Santidade foi transportada de carro para o World Trade Center, acompanhado de batedores da Polícia Militar. Foram duas horas de atraso para o início da palestra, inicialmente marcada para às 14h30.

Para "descontrair" a plateia, o mestre de cerimônias, o ator João Signorelli, que interpretou um guru na novela global Caminho das Índias (2009), convidou empresários a dar declarações sobre o motivo de sua presença na palestra. Emsintonia com o evento, a maioria refetiu sobre "busca por inspiração". O ex-ministro Ozires Silva, ex-presidente da Petrobrase da Embraer, atualmente presidente do Fórum de Líderes Empresariais, comentou as declarações e destacou a importância da palestra do Dalai Lama ao empresariado brasileiro. O Fórum foi o responsável por convidar a classe.

Além do vice-governador do Estado, Guilherme Afif, que passou a maior parte do tempo antes da palestra lendo mensagens em seu aparelho celular, participaram do evento o ex-deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), munido com uma câmera fotográfica, o empresário Ricardo Young, ex-candidato do PV ao Senado por São Paulo nas eleições de 2010, e o rabino Henry Sobel.

Ao término da palestra, às 17h46, Gabeira saiu apressado, dizendo que tinha uma entrevista marcada com o Dalai Lama, mas que não sabia se seria possível falar com líder religioso devido ao atraso na programação. Os demais saíram do local sem dar declarações. Dalai saiu como entrou: sorrindo.